segunda-feira, 14 de novembro de 2011

ULPIANO T. BEZERRA DE MENEZES – EDUCAÇÃO E MUSEUS: SEDUÇÃO, RISCOS E ILUSÕES

Ulpiano propõem uma reflexão sobre política educacional praticada nos museus brasileiros e que na opinião do autor são insatisfatórias, cheias de ilusão e até mesmo danosas. Questiona e analisa ao mesmo tempo da necessidade metodológica, nos setores que tratam da educação nos museus, em que a memória faz parte de um “resgate” da história e das identidades, tal como os suportes onde estão depositados as informações capazes de recordar continuamente e compara - “um pacote fechado de recordações”.
Neste sentido é realista e pontual quando ressalta que “a elaboração da memória se dá no presente e para responder a solicitações do presente”. (p.93)
Problematiza no sentido do museu educar dentro de um modelo que induz ao conhecimento e valoração das memórias e identidades colaborando com falsas ideologias ou como escreve: “miragem ideológica”.
O que acho importante é a proposta de questionamento que faz Ulpiano, de estar constantemente pondo em reflexão o trabalho dos museus. Cita John Dewey: “educar é garantir ao indivíduo condições para que ele continue a educar-se”. Eis o que se pode ter como proposta na educação em museus, ou seja, de se criar possibilidades para que uma pessoa, a partir da ação educativa e da ação cultural, avalie e construa de forma autônoma o seu caminho, estabeleça as suas  referências de conhecimento e assim proceda as suas escolhas em relação a sua “história herdada”.
Outros aspectos são citados pelo autor: o uso de linguagem acessível, simples e eficiente, desenvolvimentos de políticas museológicas, e transcreve o que pensa “Ellie Carter – que a primeira tarefa educativa do museu é ensinar como ele deve ser usado – trazer à tona a parte não visível do objeto.
Para concluir, penso ser interessante a colocação da proposta de museu enquanto espaço de questionamentos, mais do que de respostas. Concordo com a idéia de que o museu deveria despertar a novos questionamentos, a partir de perguntas, dúvidas e reflexões e do uso de seu acervo no sentido de estabelecer e criar estranhamentos e muitas possibilidades de análise, uma espécie de “mapa conceitual”, diante dos diferentes caminhos e de conceitos, a partir de um único objeto. Na capacidade do observador de perceber o objeto realizando as suas escolhas e em referência a sua realidade, do seu cotidiano e na construção e no fazer da sua própria história

CONVERSA COM LUCIANO LANNER

Em sala de aula, no curso de museologia da UFRGS, como proposta de Educação Patrimonial, recebemos a visita de Luciano Lanner, artista e educador que fez parte da equipe educativa e coordenou o setor na Fundação Iberê Camargo.
Em alguns momentos recebi orientações, formuladas por Luciano, enquanto busquei informações e esclarecimentos tanto do trabalho do artista Iberê Camargo, quanto de outros artista que participaram do programa de artista convidado (acho que era assim que nomeavam as exposições dos vários artistas com obras expostas na fundação). E não tinha claro para mim, qual a formação e o trabalho do mesmo enquanto artista. Talvez por isso, o mesmo compreenda e coordenasse os encontros da Instituição de forma a contemplar as dúvidas dos educadores em diferentes áreas. Sentia a cada encontro que existia a disposição de que a arte não está presente somente na disciplina de artes visuais, mas também em história, literatura, música e outras áreas do conhecimento. Além disso, a atenção para com todos em dirimir dúvidas e prover os participantes com o material educativo que era distribuído nos encontros era um esforço constante.
Inclusive num destes momentos, em que eu estava na fase de formulação e construção do meu Trabalho de Conclusão do Curso de Artes Visuais: licenciatura, pela UERGS e que era nos exigido dois tipos de trabalho: um relativo à licenciatura, e outro em ordem prática enquanto artista em atelier, foi possível acompanhar um dos meus co-orientadores que veio como artista convidado trabalhar no atelier de gravura de Iberê Camargo, o que contribuiu consideravelmente no desenvolvimento do meu trabalho e que busco até hoje, desde os aspectos na poiética, quanto  em descobrir os possíveis fornecedores dos materiais utilizados.
O profissional Luciano Lanner parece que dentro da forma de atuação é o que faz a diferença dentro tanto da produção artística, quanto na educação em museus. O mesmo demonstra que a sua atenção não está voltada primeiramente a exposição e às coleções, mas ao visitante, as possíveis formulações da arte em relação à vida. Infelizmente sai um pouco antes do término da nossa conversa e gostaria de registrar os parabéns ao Luciano e de convidá-lo a trabalhar conosco na Rede de Educadores em Museus do RS. 


TEXTOS: MUSEUS E INCLUSÃO SOCIAL e MUSEU E EDUCAÇÃO: CONCEITOS E MÉTODOS


Escreve “Gabriela Aidar” sobre a Inclusão Social. Em seu texto ela preocupa-se num primeiro momento a esclarecer aos leitores sobre o termo “exclusão social”. Descreve a Nova Museologia, a partir dos anos de 1960 e do compromisso social, mudança desenvolvida com as novas práticas nos museus e o uso de seus acervos nas ações educativas.
Neste particular, estou constantemente a refletir sobre: qual o papel a ser desempenhado pelo museu, que não o social? E de como as instituições definem, ou o que definem em termos de acervos, sem considerar a comunidade como um agente social capaz de recorrer e utilizar-se de objetos, saberes e fazeres que lhes fazem referência? O que muitas vezes não encontram correspondências nos museus.
AIDAR elenca três níveis de atuação dos museus: Os níveis “individual”, “comunitário” e o “societário”. O museu objetivando trabalhar nestes três níveis contribuirá, a partir da ação educativa e cultural, com a auto-estima pessoal e o senso de pertencimento, nas três esferas: do indivíduo enquanto cidadão; no fortalecimento de comunidades e grupos sociais que trabalham em torno do bem comum, na tomada de decisões através de uma prática democrática; e por fim, na esféra societária quando o museu preocupa-se com a inclusão e criação das narrativas, trazendo os grupos que se encontram marginalizados para fazer parte das escolhas e formação do próprio acervo, ou por estabelecer relações, através destas narrativas com as coleções das instituições museais, na ação educativa e cultural promovida na instituição.

Magaly Cabral, ao falar de museus e educação faz referência ao texto de Gabriela Aidar no que se refere às possíveis contribuições do museu e das formas de inclusão sociocultural através das políticas públicas participativas, “onde os excluídos sejam agentes nos processos que busquem a sua inclusão, uma vez que participação é, nela mesma uma forma de integração”.
No texto em questão, cita dois autores: John Falk e Lyann Dierking, dos quais chamam a atenção para três contextos que influenciam a visita ao museu:
·        O contexto pessoal, considerando-se que neste contexto estão presentes as experiências e conhecimentos, os interesses, motivações e as relações próprias do individuo;
·        O contexto social, relacionada a companhia, do visitante estar só, ou com um grupo, ou familiares e da própria equipe dos museus;
·        O contexto físico, o que compreende os aspectos arquitetônicos do edifício, dos objetos que estão expostos e do ambiente.
Diz que é com estes contextos que devemos considerar na ação educativa, somada a comunicação baseada na ação dialógica: “uma ação que dá voz e ouve o visitante”.
Trata das possibilidades reais e as decisões de política cultural contemplem o acesso à informação, com direito à produção das obras culturais através da Cidadania Cultural e do investimento social.
O papel do educativo dos museus, penso que deva ser o de construção e reconhecimento do individuo enquanto cidadão. De que o conhecimento e a cultura (assim como está conceituado no texto), só serão possíveis com a participação ativa deste, que ao reconhecer-se nas narrativas do processo educativo e cultural, também estabelece uma postura diante deste quadro como agente criador e transformador, dentro dos grupos e territórios onde estão inseridos.
Concluo meu comentário com duas frases da autora, em relação ao papel do museu e educação: “Ele deve estar comprometido com a produção de conhecimento.” e “A democratização do museu está, portanto diretamente ligada à atribuição de seu papel educativo.”

domingo, 13 de novembro de 2011

Visita ao Arquivo Público do RS

Visitamos o Arquivo Público do Rio Grande do Sul, ao chegarmos lá fomos recebidos por uma equipe de orientadores e divididos em grupos de máximo quatro pessoas realizamos uma verdadeira caça ao tesouro. Não foi a primeira vez que fui ao Arquivo Público, porém foi uma novidade as questões ligadas à atividade educacional. Além de aprendermos como funciona as práticas de arquivo da documentação, guarda, pesquisa e conservação experimentamos da atividade, tal qual como os alunos que visitam este local. Não foi menor nossa surpresa, assim imaginamos que aconteça com os alunos, ao percebemos o nome de Elis Regina numa das Certidões de Nascimento, documento objeto de estudo do nosso grupo. Constatamos o acompanhamento do "mediador" em várias questões que estão desde a preocupação em esclarecer qual a necessidade das pessoas estarem registradas e possuir um nome, ou uma família. Sobretudo, de mostrar as crianças, jovens e adultos de que todos somos iguais, precisamos ser registrados para ter uma identificação, independente de classe ou posição social. Realizamos uma conversa sobre o registro, o documento e da trajetória da cantora. Buscamos realizar, através de imagens fornecidas pelo arquivo (material educativo), uma linha do tempo mostrando tanto o vinculo de Elis Regina com a cidade de Porto Alegre, da formação familiar e da sua contribuição social e política demonstrada em vida, fazendo parte deste caminho os festivais que a mesma participou.
Achei interessante a atividade no seu conjunto, mas questionei sobre o acompanhamento das propostas do educativo do arquivo, junto aos professores, verificando um antes e o depois em sala de aula. Uma sugestão que penso ser interessante é previamente estabelecer ou sugerir atividades que possam ser desenvolvidas em sala de aula e da exploração do uso de documentação dos próprios alunos, dos professores que acompanham a turma, assim como de utilizar personagens significativos ao território de origem do grupo que visita a instituição. As propostas são ótimas e interessantes são as formas de abordagens dos diferentes documentos e da própria estrutura do prédio, além de estar expondo várias possibilidades profissionais como por exemplo  nas áreas do arquivo, da conservação e  da história.

Comentários sobre os Textos de Maria de Lourdes Parreiras Horta e Magaly Cabral

Educação Patrimonial, Educação para Patrimônio, Educação com o Patrimônio.
Tecendo comentários sobre os textos “Educação Patrimonial” e “Educação Patrimonial II”, ambos de Maria de Lourdes Parreira Horta Barreto, tal qual o cronograma proposta na disciplina da Educação Patrimonial ministrado pela professora Zita Possamai, pretendo um diálogo sobre as questões relacionadas à educação em museus. Um demonstra a preocupação da autora em relação ao ensino em referência ao passado, dentro do espaço museal, buscando interesse da criança, em seu processo de construção do conhecimento. No segundo texto trata dos “como?” A educação centrada no objeto e dos princípios fundamentais da Psicologia do Aprendizado e da Percepção.
E o que vem a ser educação patrimonial? “Poderíamos defini-la em termos objetivos, como o ensino centrado no objeto cultural, na evidência material da cultura. Ou, ainda, como o processo educacional que considera o objeto como fonte primária de ensino.” (HORTA).
Mais adiante e no mesmo texto está escrito: “Os monumentos e objetos do patrimônio cultural possibilitam às crianças, do mesmo modo que aos adultos, uma experiência concreta, não-verbal (e por isso acessível a todos), que lhes permite evocar e explicar o passado de que são herdeiros.”
 
Diante dos trechos acima transcritos e de outros que estão ao longo do texto, compreendo sobre a questão no uso do objeto exposto no museu, para fins da ação educativa, em âmbito, “formal ou informal” – ainda tenho dúvidas quanto a este particular. E neste sentido lembro-me, só para exemplificar, do quadro da primeira missa no Brasil de Victor Meirelles, exposto no MARGS em 2008. De quanto algumas pessoas, as que receberam uma educação baseada somente na imagem impressa num livro e na transferência de informações, desejavam ver de perto o quadro e da emoção dessas pessoas ao ficar diante da obra. Alguns verbalizavam toda a “cartilha”, apreendida num tempo não muito distante. Diferente de alguns jovens que questionavam tudo o que estavam vendo e demonstravam maior interesse no quadro de Glauco Rodrigues, que leva o mesmo título, porém de 1980. Ou nas demonstrações das práticas de restauro coordenados por Andrea Pereira.
Citei o episódio da exposição da obra de Victor Meirelles, em virtude de entender que o objeto necessita estabelecer relações do passado, com o futuro, a partir do presente daquele que o está percebendo.
E por sinal a respeito da Percepção, como escreve a autora, existe uma necessidade de perceber: de ouvir, de ver claramente, ouvir distintamente, investigar o que se vê, sendo estas necessidades inatas a todos nós dentro do processo de aprendizagem. E que a partir deste evento, mudamos de uma situação inicial para novas percepções.
 
Sendo que no processo de aprendizagem são importantes: a percepção, a motivação, (esta em relação a organização da realidade e da adaptação à vida em sociedade), da capacidade de retenção, neste sentido em relação a capacidade de memorizar, a partir da experiências concretas. E por último a “emoção”, no sentido de que quanto maior for o envolvimento da criança em ordem afetiva, maior será o grau de seu aprendizado.
Somando-se aos princípios fundamentais da aprendizagem, demonstra a preocupação com uma metodologia pedagógica e que a mesma acompanhe os níveis de desenvolvimento do pensamento, fazendo referência a teoria de Piaget.
Quando penso em ação educativa, neste sentido sempre acho que ela é possível tanto em sala de aula, quanto no espaço do museu. E que uma ação educativa eficaz deve partir das experiências do educando e/ou visitante. Iniciado pelo diálogo e pela proposta de reflexão e de questionamentos, até que se possibilite a percepção do objeto e de tudo aquilo, ou parte do que o mesmo poderá oferecer.
E quando preciso analisar o termo ou expressão (seria o mais correto dizer), Ação Patrimonial, parece-me uma transferência de informação, assim constatado no rodapé da página 20, do texto de Magaly Cabral, Museu e Educação: Conceitos e Métodos, a respeito da educação bancária
Denominação dada àquela prática onde “educar é o ato de depositar, de transferir, de transferir valores e conhecimentos dos que sabem aos que não sabem... onde a única margem de ação que se oferece aos educandos é a de depósitos, guardá-los e arquivá-los.” (FREIRE, 1987:58).
No texto citado acima, a autora demonstra predileção pelo uso da expressão “educação com o patrimônio”, no sentido de abolir os métodos educativos e dar atenção a ação educativa com o patrimônio. Sendo utilizada por Denise Grinspum, em sua tese de doutorado, a definição sobre educação para o patrimônio, pelo mesmo motivo: “Constitui-se em formas de mediação que propiciam aos diversos públicos a possibilidade de interpretar bens culturais, atribuindo-lhes os mais diversos sentidos, estimulando-se a exercer a cidadania e a responsabilidade social de compartilhar, preservar e valorizar patrimônios material e imaterial com excelência e igualdade.(2000).” (CABRAL, p. 26)
Mas, dentro ainda das concepções de Magaly Cabral está na questão – O que fazemos no Museu? – casualmente os alunos, meus amigos e amigas, e as minhas filhas em muitos momentos fazem-me esta pergunta: tu estas sempre em museus, mas o que fazes lá? E a noção da autora, para mim, parece pertinente, sobre a relação do HOMEM com o OBJETO, ou seja, entre aquele que conhece e a parte ou fragmento da realidade, da qual pertencemos e temos o poder de agir.
 
Da mesma forma, reconheço e acho importante o investimento na educação, e por meio desta é possível realizarmos uma inclusão social, que seja participativa e não assistencialista. Além da necessidade de políticas públicas e de investimento social para que se estabeleça a construção do conhecimento de uma sociedade com indivíduos conscientes de seu papel na sociedade.
Para concluir penso que a educação para o patrimônio deveria estar expressa e concretamente inserida no ensino formal e informal, nos planos de ensino e na ação educativa, em qualquer faixa etária, pois acredito na possibilidade de que cada grupo é uma microcultura que guarda em si a possibilidade de construção do conhecimento dentro de um ambiente de diálogo e troca de experiências. E que estabelece relações entre passado, presente e futuro na construção e compreensão da sua história e na escolha de seus significados, a partir de suas experiências de vida.

Atividade II - Texto Magaly Cabral

Atividade I- Mapa Conceitual Cruzando Textos